Histórias de cura, histórias que curam | Revista Fleury Ed. 40

Conheça a história de superação das protagonistas da campanha Vem Ser Rosa, do Fleury

Emmanuele recebeu seu diagnóstico aos 29 anos de idade, quando tudo parecia encaminhado em sua vida: trabalho, um bom relacionamento, amigos e familiares sempre por perto. Para Andrea, ele chegou aos 48, em um momento em que suas filhas cresciam e sua vida pessoal e profissional fluía tranquilamente. Cecilia tinha 36, havia acabado de se casar e estava cheia de planos e sonhos. Regiane, 24, notou um caroço no seio às vésperas do Natal e um mês depois soube do que se tratava.
Quatro mulheres com perfis e histórias bem diferentes, mas com uma força que as une: elas venceram o câncer de mama movidas por muito otimismo, apoio dos amigos, da família e dos colegas, mas, principalmente, por amor a si mesmas. Emmanuele, Andrea, Cecilia e Regiane são os rostos da campanha Vem ser Rosa Fleury. A seguir, contaremos suas batalhas e vitórias, que hoje servem de inspiração e cuidado para tantas outras mulheres em todo o Brasil.

Regiane Quintas, 27 anos

Era véspera de Natal e a bióloga e professora de balé Regiane estava se arrumando para a ceia com a família. A jovem (de então 24 anos) sentiu um carocinho no seio esquerdo e chamou a mãe e a irmã para verem. Todas  acharam que era algum gânglio inflamado ou outra reação normal do corpo. Um mês depois, um ultrassom de mamas levantou a suspeita do tumor, mas o ginecologista descartou o câncer, até que Regiane e a mãe decidiram procurar o especialista que cuidara da doença da avó materna cinco anos antes. Encaminhada por ele a uma oncologista, Regiane fez um preparo prévio para reduzir o tumor antes de retirá-lo cirurgicamente.
A cirurgia correu bem e ela seguiu sua rotina. Nessa época, ela, que é bióloga de formação, dava aulas de balé e estudava para se formar bailarina clássica. Uma de suas alunas perguntou o porquê dela usar um lenço. Regiane explicou que estava doente, e que essa doença fazia os cabelos caírem. A menina pediu então para que ela tirasse a peça, acariciou sua cabeça e disse: “Eu gosto de você assim, tia. Fica parecendo um kiwi!”, conta Regiane, rindo. A partir desse dia, decidiu não dar mais aulas com a cabeça coberta, o que foi libertador. A cachorrinha Amora, adotada duas semanas antes do tratamento, também foi fonte não só de afeto, mas de segurança. “Uma vez eu me senti muito fraca e desmaiei no banheiro. Meu namorado assistia à TV na sala. Foi Amora quem, latindo e mordendo-o, avisou-o do que tinha acontecido e ele foi me socorrer. Ela foi meu anjo da guarda”, conta.
Hoje aguarda a formatura do balé, segue dando aulas de dança e, por ora, deixou a biologia de lado. Aprende a lidar com os efeitos colaterais da quimio em seu corpo, como um quadro de osteoporose que a obrigou a reduzir o ritmo dos ensaios e tornou-a mais suscetível a ter lesões. Também se emociona ao dizer que não poderá ser mãe, devido à agressividade do tumor e do tratamento, o que lhe causou endometriose e problemas hormonais. A médica que a acompanha diz que as chances de um tratamento de fertilidade são baixas, mas ela não perde a esperança de ter um bebê. E nem a gratidão por estar viva, com saúde e batalhando por seus projetos. Regiane aconselha a quem recebeu o diagnóstico não se desesperar e jamais desistir.

Andrea Nassen, 51 anos

Foi o massagista de Andrea que, há três anos, notou a presença de um pequeno caroço na axila direita da dentista. “Achei que era um gânglio, uma coisa simples”, lembra. Seis meses depois, o ginecologista fez o diagnóstico numa consulta de rotina, de posse da mamografia. Foi tudo muito rápido: em menos de uma semana, Andrea foi encaminhada a um mastologista e a um oncologista, e teve que fazer uma cirurgia para retirar o quadrante do seio direito, porque havia sofrido metástase. “Em pouco tempo minha vida mudou totalmente, mas eu não perdi a fé de que tudo ficaria bem”, recorda.
Durante o tratamento, que durou um ano e meio e incluiu quimio e radioterapia, Andrea continuou trabalhando. “Além da minha família, meu trabalho foi fundamental”, conta ela, que é mãe de duas jovens de 23 e 16 anos, a quem tentou proteger de qualquer sofrimento. “Eu chorava sozinha no banheiro, mas não queria passar nenhum sentimento ruim para elas, nem que elas pensassem que eu estava sofrendo de uma doença fatal”, conta. Nos primeiros dias da quimio, quando o cabelo começa a cair, Nina decidiu raspar a cabeça junto com a mãe. “Ela foi muito companheira e carinhosa. Não saía de perto de mim, me ajudava com tudo.”
Havia momentos tristes, outros tranquilos ou, ainda, desanimadores. Mas ela abraçou o pensamento positivo. “Tentei treinar meu pensamento. A cabeça tem de entender o que está acontecendo e nos ajudar.” Quando, durante a quimioterapia, Andrea teve de passar por uma segunda cirurgia, desta vez para a retirada do útero e do ovário, ela não se abalou, acreditando que a cura estava próxima.
Hoje, Andrea segue sua vida normal. Voltou a fazer as coisas de que mais gosta, como dar longas caminhadas no parque, o que no tratamento era impossível. “A radioterapia rouba todo o nosso ânimo. Eu tentava sair para andar, mas dava uma pequena volta e já me sentia muito fraca”, relembra. Voltou ao peso de antes da doença – engordou durante o tratamento, devido à cortisona – e sente-se ótima.

Emmanuele Silva Costa, 32 anos

Foi o ex-namorado quem notou primeiro: havia um caroço no seio esquerdo de Emmanuele, à época com 29 anos. Ela achou estranho, mas não deu muita importância. Tinha uma saúde de ferro, era jovem e estava numa das melhores fases de sua vida. Três meses depois, o incômodo e a dor já se faziam sentir. Seu ginecologista foi quem primeiro desconfiou da possibilidade do câncer de mama, uma vez que uma de suas tias maternas já havia tido a doença, e uma mastologista confirmou. “Na minha primeira consulta, eu já esperava por esse resultado, mas ninguém nunca está pronto para recebê-lo”, confessa.
Quando a quimio começou, ela resolveu levar a vida o mais próximo do normal quanto era possível. “Você está no auge e de repente percebe que tudo vai mudar, que terá de cuidar de si mesma por um bom tempo. Foi duro”, recorda. Decidiu continuar trabalhando com uma carga de horas reduzida, com apoio de colegas e do então chefe. Manteve-se otimista e tranquila, colocando o cuidado próprio em primeiro lugar. Esse carinho também veio da família e de amigos mais próximos. “Eles vinham em casa para conversar sobre coisas que não fossem o câncer, traziam comida, ficavam por horas. Eu precisava sair um pouco da doença, do tratamento, olhar também pra fora.”
Tendo como lema a música “Eu apenas queria que você soubesse”, do cantor Gonzaguinha, uma verdadeira ode à vida e à alegria, Emmanuele em nenhum momento teve medo de morrer, mas se via bonita com seus cachos de volta, feliz, saudável e forte. Sabia que o câncer era uma fase a se enfrentar com bravura. Comemorou cada fim de etapa de tratamento com sua tia, que também era sobrevivente do câncer de mama.
Há dois anos curada, Emmanuele sente-se feliz. Sua história tornou-se um motor para a sua vida, e ela diz sentir uma alegria muito grande em compartilhar sua experiência e inspirar outras pessoas. “Na época do tratamento, minha terapeuta disse que eu tinha de entender que minha vida estava em movimento, e que eu deveria imaginar uma torre alta, onde estaria o fim desse processo.” Quem a vê hoje não tem dúvidas de que ela chegou lá.

Cecilia Cettani, 73 anos

Há 37 anos, a advogada Cecilia foi ao ginecologista da família (ela tinha cinco irmãs) para os exames de rotina. Com 36, havia acabado de se casar pela segunda vez (ficou viúva do primeiro marido antes dos 30) e se preparava para uma viagem com o novo companheiro. No exame das mamas, o médico notou um caroço, mas achou que logo desapareceria. Ela seguiu a vida.
Um ano depois, o caroço já tinha um tamanho bem maior e incomodava, apesar de não doer. Foi ao mesmo médico e ele lhe pediu que tirasse uma chapa do pulmão. “Isso foi em 1980, ainda não havia esse avanço tecnológico nos exames de diagnóstico tão grande como há hoje”, conta. O exame mostrou o tumor, que estava em estado avançado. Em menos de uma semana, Cecilia teve retirada sua mama direita, e as técnicas para tal procedimento ainda eram rudimentares e traumatizantes. Mesmo assim, um mês depois da mastectomia ela voltou ao trabalho. “O trabalho, meus colegas e a minha família foram fundamentais na minha recuperação.”
Estar ativa e cercada de afeto foi decisivo para diminuir a tristeza de Cecilia nos primeiros meses depois da mastectomia. “Logo na semana seguinte, eu olhava para aquele espaço vazio, cheio de pontos negros, e me desesperava. Cabelo e mama são duas coisas que mexem muito com a nossa autoestima, e são justamente as que o câncer ataca.” Depois da cirurgia, a advogada fez seis meses de quimioterapia, o que para ela foi a parte mais dura do tratamento. Para lidar com a falta do seio, foram anos de adaptações, autoaceitação e muito aprendizado. “A nossa fortaleza está na gente mesmo. Dinheiro, corpo, cabelo, tudo isso muda, tudo vai embora, mas o que está dentro da gente não.” Desde essa época, se dedica a estudar filosofia e a se aprofundar nos conceitos do autoconhecimento como formas de lidar com o mundo.
Quanto ao corpo, passou mais de trinta anos usando peças de silicone e se diz satisfeita com o efeito estético delas. Ela conta que, das próteses que já usou, uma teve um significado especial. Na época em que fazia quimioterapia, Cecilia teve contato com um grupo de apoio alemão, que confeccionava “próteses artesanais” em tecido e preenchidas com alpiste, oferecidas como presente às pacientes. “Achei aquilo tão sublime que passei a ajudá-los, visitando outras pessoas com câncer, dando-lhes esperança, ajudando a acalmar quem estava passando por aquilo”, relembra com carinho. Cecilia hoje segue advogando, além de ser modelo e voluntária em hospitais oncológicos da cidade de São Paulo. Otimista e animada, diz que jamais pensou em morrer, sempre acreditou na cura, na medicina e em si mesma.

“Me transformei em outro ser humano, mais forte e mais corajoso. Se você acaba de receber um diagnóstico de câncer de mama, tenha calma, pensamento positivo e muita força. A gente supera.” Andrea Nassen

“É um presente poder ajudar outras pessoas a se conscientizar contando a minha história. Tudo passa, tem de acreditar nisso.” Regiane Quintas

“Mantenha a sua força interior. Vá para a luta, sem medo, porque tudo vai ficar bem.” Cecilia Cetane

“Todo paciente oncológico tem de celebrar as pequenasvitórias, que são tão importantes.” Emmanuele Silva Costa

#VEMSERROSA
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Fotos: Hanna Vadasz