Consideram-se feridas crônicas as lesões cutâneas que permanecem abertas por um período superior a seis semanas, frequentemente devido à presença de fatores subjacentes como isquemia, infecção persistente ou desregulação inflamatória. Estima-se que aproximadamente 1% a 2% da população dos países desenvolvidos será afetada por essas condições ao longo da vida, com prevalência ainda maior entre idosos e indivíduos com doenças crônicas não transmissíveis (Sen, 2021; Nussbaum et al., 2018).
A presença de tais lesões impacta negativamente a qualidade de vida dos pacientes em múltiplas dimensões. Estudos demonstram aumento significativo nos índices de dor, limitação funcional, distúrbios do sono, depressão e ansiedade, além de prejuízo nas interações sociais e na capacidade produtiva (Herber et al., 2007). A cronicidade das lesões frequentemente leva à dependência de cuidadores, à perda da autonomia e a custos diretos e indiretos elevados para os sistemas de saúde — somente nos Estados Unidos, o impacto econômico das feridas crônicas supera 28 bilhões de dólares anuais (Nussbaum et al., 2018).
Além dos aspectos clínicos e econômicos, é essencial reconhecer o sofrimento psicossocial dos indivíduos acometidos. A literatura aponta que muitos pacientes relatam sentimentos de desesperança, estigmatização e frustração diante da recorrência das feridas e da lentidão no processo de cicatrização (Hopkins, 2004). Nesse contexto, torna-se urgente a inovação nos modelos de cuidado, com incorporação de tecnologias emergentes, protocolos baseados em evidência e maior integração entre equipes multidisciplinares.
Diante deste cenário complexo e desafiador, o Fleury estruturou um novo serviço, para melhorar os desfechos clínicos e restaurar a qualidade de vida dos pacientes acometidos por essas lesões, o qual inclui troca de curativos, avaliação especializada de feridas crônicas e retirada de pontos. Esses procedimentos são realizados mediante prescrição médica detalhada na Unidade Paraíso e no Fleury em Casa, o serviço de atendimento móvel do Fleury.
Como funciona cada procedimento do novo serviço do Fleury
Troca de curativos
Um enfermeiro estomaterapeuta, capacitado em cuidados com feridas, realiza as trocas de curativos e acompanhamento da cicatrização, sempre conforme as orientações do médico-assistente, respeitando sua conduta e mantendo comunicação aberta e objetiva com os especialistas envolvidos.
Avaliação especializada de feridas crônicas
Também conduzido por enfermeiro estomaterapeuta, o atendimento inclui a classificação clínica precisa da ferida, com base na escala de Bates-Jensen; a documentação fotográfica padronizada, com evolução comparativa; a emissão de um laudo técnico minucioso, contendo análise detalhada, fatores locais e sistêmicos envolvidos, além de recomendações baseadas em evidências para otimização da cicatrização; e propostas de condutas integradas ao plano terapêutico já instituído.
Retirada de pontos
Consiste na remoção de pontos em feridas cirúrgicas/ suturas.
Saiba mais
Etiologia das feridas varia e tratamento exige abordagem integrada
Considerada o maior órgão do corpo humano, a pele representa cerca de 15% do peso corporal e atua como uma complexa barreira, fazendo a interface entre o ambiente e o corpo. Já a ferida consiste em qualquer interrupção na continuidade da pele que afete sua integridade, podendo ser superficial ou profunda, fechada ou aberta, simples ou complexa, aguda ou crônica. De acordo com diversos parâmetros que auxiliam o diagnóstico, a evolução e a definição do tipo de tratamento, tais lesões são classificadas como cirúrgicas, traumáticas ou
Dentre as principais etiologias das feridas, destacam-se as úlceras venosas, as úlceras arteriais, as úlceras neuropáticas (como as do pé diabético) e as lesões por pressão. Em comum, porém, todas têm um microambiente desfavorável à regeneração tecidual, caracterizado por inflamação crônica, biofilme bacteriano, hipóxia local e desequilíbrio entre metaloproteinases da matriz e seus inibidores (Li et al., 2007). Além disso, muitas vezes tais lesões coexistem com estados metabólicos descompensados, como hiperglicemia crônica ou insuficiência vascular, que agravam o retardo cicatricial.
A cicatrização é um processo fisiológico por meio do qual a pele recupera sua integridade e se divide em três fases distintas, sequenciais e inseparáveis: inflamatória, proliferativa e de reparo. Pode variar de uma pessoa para outra, pois está relacionada com o tipo da lesão e com fatores influenciadores como faixa etária, estado nutricional, doenças crônicas, terapia medicamentosa e tratamento tópico inadequado.
Diante disso, o manejo clínico das feridas exige uma abordagem integrada, baseada em evidências atualizadas e centrada no paciente. Estratégias modernas incluem a remoção eficaz de tecidos inviáveis (desbridamento), controle rigoroso da infecção, incluindo técnicas para romper biofilmes, otimização da perfusão tecidual e uso de terapias avançadas como curativos inteligentes, oxigenoterapia tópica, terapia por pressão negativa e bioengenharia tecidual (Gurtner et al., 2008; Frykberg & Banks, 2015).
Referências:
Sen, C. K. (2021). Human Wounds and Its Burden: An Updated Compendium of Estimates. Advances in Wound Care, 10(5), 281–292.
Nussbaum, S. R., et al. (2018). An Economic Evaluation of the Impact, Cost, and Medicare Policy Implications of Chronic Nonhealing Wounds. Value in Health, 21(1), 27–32.
Frykberg, R. G., & Banks, J. (2015). Challenges in the Treatment of Chronic Wounds. Advances in Wound Care, 4(9), 560–582.
Gurtner, G. C., et al. (2008). Wound repair and regeneration. Nature, 453(7193), 314–321.
Herber, O. R., Schnepp, W., & Rieger, M. A. (2007). A systematic review on the impact of leg ulceration on patients’ quality of life. Health and Quality of Life Outcomes, 5(1), 44.
Li, J., Chen, J., & Kirsner, R. (2007). Pathophysiology of acute wound healing. Clinics in Dermatology, 25(1), 9–18.
Hopkins, A. (2004). Psychosocial impact of chronic skin ulcers. Journal of Wound Care, 13(2), 51–54.
Consultoria médica
Dra. Maria Luisa Pedalino Pinheiro
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Fleury conta com todos os recursos para a investigação, incluindo um setor de provas funcionais.
Ressonância magnética é útil especialmente em casos mais complexos da doença
Publicação destaca o diagnóstico por imagem das doenças neurometabólicas.