Análise molecular da DVW

A análise gênica através do sequenciamento de nova geração pode ser utilizada para caracterização dos defeitos genéticos presentes na DVW e de fato resultou em melhor compreensão dos mecanismos fisiopatológicos da doença ao desvendar a correlação entre defeitos moleculares e fenotípicos específicos da doença. Além disso, a correlação entre uma determinada alteração gênica e os parâmetros hemostáticos observados em indivíduos heterozigotos para essa alteração auxiliam na determinação da forma de transmissão da DVW.

O espectro de alterações genéticas no FVW é amplo. Estão descritas, aproximadamente 300 diferentes defeitos moleculares na DVW, os quais incluem mutações missense, nonsense, deleções e inserções.

Nos defeitos quantitativos do VWF (DVW tipos 1 e 3), as alterações gênicas mais comuns são deleções e mutações nonsense e missense. Regiões distintas do gene estão envolvidas com esses fenótipos.

A detecção de mutação nos déficits qualitativos (DVW tipos 2A, 2B, 2M e 2N) torna-se mais fácil, uma vez que essas alterações se concentram em regiões que codificam domínios específicos do VWF, envolvidos com a função deficiente.

A DVW tipo 2A está relacionada com dois grupos de alterações genéticas que resultam na diminuição da quantidade de multímeros de alto peso molecular. Um grupo de mutações interfere no armazenamento e secreção de multímeros de alto peso molecular, sendo o outro grupo responsável pela produção de multímeros do VWF mais sensíveis a proteólise no plasma. A maior parte das mutações relacionadas ao tipo 2A está localizada no éxon 28 do gene do VWF.

Na DVW tipo 2B também há concentração de mutações no éxon 28, no qual foram descritas, até o momento, 48 mutações missense. Tais defeitos moleculares ocorrem em regiões codificantes do domínio A1 do VWF, onde se localiza o sítio de ligação com a GPIb plaquetária.

A DVW tipo 2M é geralmente resultante de mutações missense localizadas nos domínios A1 e D3 do VWF, diminuindo sua afinidade com plaquetas, sem alterar a quantidade de multímeros de alto peso molecular.

Na DVW tipo 2N, as mutações missense, envolvendo os domínios D’ e D3 do VWF, geralmente localizam-se entre os éxons 18 e 22, e resultam em diminuição de afinidade do FVW pelo FVIII.

A principal técnica de biologia molecular utilizadas para a análise gênica na DVW é a PCR (polymerase chain reaction). Na maior parte dos protocolos, uma estratégia direta de amplificação é adotada, focada em sequências de DNA codificando regiões específicas da proteína. Nessa estratégia, o DNA genômico é extraído de leucócitos do sangue periférico e a região de interesse do gene (promotora, éxon, íntron, etc) é amplificada utilizando-se pares de primers apropriados. As condições da reação de amplificação devem ser modificadas, em cada caso, para a obtenção de especificidade e rendimento máximos. A seguir, a região de interesse é sequenciada por método automatizado. O conhecimento da sequência do pseudogene do VWF é essencial para a realização da amplificação adequada de regiões entre os éxons 23 e 34 do VWF.

Técnicas alternativas, envolvendo isolamento de RNA total a partir de leucócitos periféricos, são também disponíveis. Nessa abordagem, o RNA é submetido a transcrição reversa (RT-PCR) sob ação da enzima transcriptase reversa e utilizando primers específicos. Os produtos de amplificação são então purificados e a análise é feita por método de clivagem química (CCMA, chemical cleavage mismatch analysis).